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Mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco à Ordem
por ocasião do 140º Capítulo Geral
Ao Revdo. Padre José Antonio Nieto Sepúlveda
Prepósito Geral da Ordem dos Clérigos Regulares Somascos
Reverendíssimo Padre,
caros Irmãos,
Tenho o prazer de vos enviar esta mensagem por ocasião do vosso 140º Capítulo Geral. Dirijo uma saudação especial ao Superior Geral da Ordem e aos Conselheiros.

Escolhestes como tema dos vossos trabalhos o lema: “Coragem, não temais! Ofereceram-se a Cristo. Testemunho e fraternidade”. O lema faz referência às palavras com que o profeta Ageu encoraja Zorobabel, Josué e todo o povo de Israel que regressou do exílio a reconstruir o Templo do Senhor (cf. Ag 2,4-5). Recorda também o conteúdo de uma carta de S. Jerônimo Emiliani, na qual, dirigindo-se a alguns irmãos, lhes recorda os compromissos da sua consagração e os exorta a não cederem às tentações do relaxamento e da mediocridade (cf. Carta a Ludovico Viscardi em Bérgamo, Somasca, 11 de janeiro de 1537).
Mais de dois milênios depois do tempo do Profeta, e cerca de cinco séculos depois do tempo do Fundador, esta dupla mensagem permanece válida: não desanimar e não desistir, porque o Senhor continua a chamar e a sustentar! No entanto, os desafios mudam e, por isso, gostaria de aproveitar esta oportunidade para refletir convosco sobre dois deles: a inculturação e a missão.
A inculturação. Com tantos anos de história, a Ordem dos Clérigos Regulares Somascos apresenta-se hoje como uma grande família internacional e multicultural, na qual as diversidades se harmonizam e se unem pelo mesmo carisma e pela mesma vocação comum. Isto faz de vós um espelho de um mundo, o nosso, cada vez mais caracterizado pela enriquecedora interação de civilizações e tradições, no qual as pessoas se movem e se encontram muito mais do que no passado, “uma sociedade que, por vezes sem se dar conta, anseia profundamente por uma fraternidade sem fronteiras” (São João Paulo II, Exortação Apostólica Vita Consecrata, 85). Infelizmente, não faltam contradições graves e dolorosas: por exemplo, há quem possa dar-se ao luxo de viajar confortavelmente pelo prazer de aprender e explorar, e quem seja obrigado a fazê-lo em condições deploráveis devido à necessidade desesperada de sobreviver.
Nesta realidade, rica tanto em oportunidades como em problemas, a vossa presença como comunidade em que se acolhe uns aos outros como um dom de Deus para o crescimento e o bem de todos, é um sinal profético e um poderoso anúncio do Evangelho. E precisamente para que esta mensagem cresça e ressoe com força, encorajo-vos a cultivar entre vós e com todos um estilo de fraternidade: acolher com amor e abertura aqueles que chegam e aproximar-se com humildade, respeito e gratidão das realidades às quais sois enviados. Só assim, onde quer que trabalheis, será possível construir - e, se necessário, reconstruir - o “templo do Senhor”, como lugar de paz (cf. Ag 2,9) e casa para todos os povos (cf. Is 56,7). Eis, portanto, quatro formas importantes de inculturação para o vosso caminho: acolher, valorizar, respeitar e amar.
E vamos ao segundo ponto: a missão. Desde o início da sua obra, S. Jerônimo viveu o serviço aos necessitados como uma oportunidade para lhes oferecer, para além da assistência material e da formação intelectual, o anúncio do Evangelho e o dom da graça, dirigindo-se de modo particular aos mais pobres entre os pobres: os órfãos, os meninos e as meninas desamparadas, os “incuráveis”, os flagelados. Vós nascestes como missionários para o resgate e a salvação dos mais pobres, e não há tempo, nem povo, nem realidade humana que não tenha a sua pobreza. Vemo-la também à nossa volta, num leque de misérias que vai desde a necessidade de justiça e de resgate de quem é privado do necessário, atingido pela fome e pela guerra, até a solidão desesperada de quem tem demasiado, mas perdeu o sentido da vida, como acontece muitas vezes nos países ditos “desenvolvidos”.
Por isso, onde quer que a Providência vos envie, encorajo-vos a serdes verdadeiros “missionários servidores dos pobres”, como o vosso nome indica, atentos na escuta e diligentes na resposta, ocupando-vos das necessidades das pessoas que o Senhor coloca em vosso caminho. Para isso, encorajo-vos a aceitar o convite que a Igreja dirige aos religiosos para que “reflitam sobre os próprios carismas e tradições, a fim de os colocar [...] a serviço das novas fronteiras da evangelização” [CIVCSVA, Partir de Cristo, 19 de maio de 2002, 36].
Caríssimos, ao mesmo tempo que vos agradeço o muito trabalho que realizais, confio-vos à intercessão de Maria, Mãe dos Órfãos, concedendo a Bênção Apostólica a todos vós, à Ordem e às pessoas a ela ligadas.
E recomendo-vos: não vos esqueçais de rezar por mim.
Roma, Policlínico Gemelli, 5 de março de 2025
Francisco
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